quarta-feira, 9 de julho de 2008

Birdcage, quando ainda era legal rir de Gays


Albert Goldman

Agador Spartacus

Se tivesse que nomear a personagem de cinema que me é mais querida, estas duas pérolas estariam sempre entre os nomeados. São raras as ocasiões em que o trabalho de um actor transcende por completo o que está na página e o realizador nem espera o tesouro que tem nas mãos. E é sobretudo pelo trabalho excepcional de Nathan Lane e Hank Hazaria que este filme é tão especial.

Sim, pode-se considerar que são duas personagens baseadas em clichés e até preconceitos sociais. A abordagem que os actores tomaram não é radicalmente inovadora em si. Mas há algo, uma sinergia, uma simbiose entre o papel e o actor, um comic timming precioso que nos fazem rir de situações que nos dias que correm são quase proibidas de se acharam hilariantes, tão frágeis andam as susceptibilidades à rir-me de personagens maricas.

E Albert e Agador não são nada menos do que isso. São maricas. Esteriotipadamente maricas. Albert quer ser mulher, usa maquilhagem, fala fino e vive com um homem. Agador usa calções à Lara Croft, quer ser bailarina, faz a limpeza a ouvir Gloria Estefan e é o mordomo do casal. Maricas, no seu pleno significado nos anos 90. E são as personagens mais bondosas, bem intencionadas e empáticas de todo o filme.

Realizado pelo sempre consistente Mike Nichols (autor de clássicos como The Graduate), The Birdcage é a adaptação americana para cinema de uma peça francesa que também foi adaptada ao cinema nesse país, La Cage Aux Folles. Não vos quero de todo descrever o enredo. Apenas vos digo que envolve muitos maricas, muita sátira política, muita sátira social e possui em elenco de luxo. Robin Williams também interpreta um homossexual, ainda que bem menos maricas do que Albert e Agador (com tanto pêlo corporal nunca seria muito credível). Gene Hackman interpreta um senador conservador, numa performance cheia de nuance, subtileza e brilhantismo. Dianne Wiest interpreta a esposa. Calista "Ally McBeal e também Mrs. Harrison Ford" Flockhart interpreta a filha do casal, que pretende casar-se com o filho de Robin Williams, que naturalmente não é maricas e que cuja mãe é Albert. Faz tudo mais sentido do que parece.

O filme é hilariante, tem conteúdo, tem interpretações fantásticas (sobretudo por parte dos dois destaques mencionados) e muito coração. Apesar das críticas de muitas flores de estufa, é um retrato profundamente humano e empático das relações homossexuais. E riam-se à vontade, sem medo de ofender alguém. Muitos dos "maricas" que eu conheço e por quem tenho profunda estima, ficariam ofendidos se não o fizessem.

Tentem não se rir disto:

Veredicto: Síííííííííííííííííííííííí 9/10

Stay Puft

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